28 de agosto de 2011

A ignorância é uma benção!


                                            Crônica: JU Blasina


- Malditas pesquisas! É de se admirar que haja tanta gente saudável no mundo! - escreveu ela, em seu status de Facebook, após uma madrugada navegando por alguns dos lugares mais inóspitos da internet: o fantástico mundo das descobertas científicas relacionadas à gestação

Já não bastasse o susto que receber a notícia de que pelos próximos 9 meses, ou melhor dizendo, pelas próximas 42 semanas nem se dê ao trabalho de calcular – seu corpo se tornará uma metamorfose ambulante, vem a maldita curiosidade a lhe guiar contra a fantasiado momento mais mágico da vida de uma mulher”.


A primeira coisa que uma mulher recém-descoberta-grávida faz é partir para as pesquisas: o bisonho calendário da gestação, significado de nomes, o que se pode e o que nem se deve pensar em comer, beber, fazer... 

E um novo mundo se abre, enquanto aquele que ela conhecia aparentemente se fecha perante os olhos arregalados de quem acabara de embarcar numa turbulenta viageme de gaiato!

Como (quase) todas as mulheres, ainda que a maternidade não fizesse parte de seus planos imediatos, ainda que sua vida – de solteira, moderna, independente e um tanto feminista – não comportasse tais mudanças para já, ainda que não tivesse estrutura nem econômica, nem financeira, tampouco afetiva para tal empreitada, julgava que saberia o que fazer assim que isso fosse uma realidade: seria a mais saudável grávida da história da humanidade, graças a sua rotina de exercícios, dos cuidados com a pele, com a dieta, já equilibrada, e ao sono bem dormido de cada santa noite... Mas, o universo sabe o que faz para dobrar línguas presunçosas. 


Vivia a fase mais boêmia de sua vida: bebida, cigarros, noites em claro pelos botecos da vida, quando recebeu a pedrada da notícia. 

Instantaneamente, largou o que quer que trouxesse nas mãos e as levou a cabeça: havia um mês que levava um hóspede silencioso às suas noites de farra

E com as possíveis consequências disso em xeque, o universo riria da cara dela pelos longos próximos meses.

- PQP! Se a próxima frase que eu ler proibir o chocolate, juro que vou ficar inerte nessa cama pelos próximos 8 meses! – disse ela, um tanto irritada, após ter lido em todas as possíveis “dicas para uma gestação saudável” que todos os seus tão estimados hábitos deveriam ser abandonados “para todo o sempre, amém”, ou enquanto durar a atual condição em que se encontrara, ou seja, pelos próximos 8 benditos meses: sem bebidas alcoólicas, sem canela, sem gengibre, sem pimenta, [quase] sem café, chocolate ou chá verde, azeitonas ou qualquer coisa que traga sabor!



Sorte a dela em gostar tanto de espinafre - esse pode... E aos lotes! 

Sorte a do bebê em estar num útero pseudo-vegetariano: o que se perde em carne vermelha, ganha-se em grãos, castanhas, legumes e frutas – tomar que ele se contente mais do que ela com o cardápio “do navio”. 

E dá-lhe leite, muito leite onde antes havia vinho e outras delícias líquidas, mas... Qualquer sacrifício é válido na penitência de superar possíveis traumas causados pelo primeiro mês de ignorância.

- Agora fico pensando em toda a fisiologia que carrego na barriga... - dizia ela, mais a si mesma que a qualquer ouvido.

- É mesmo de se admirar que tanta gente nasça saudável, com todas as chances de que algo dê errado, por mais certo que se faça, coma, beba, RESPIRE! – completou a apavorada de primeira viagem.


- E ainda assim, eles nascem... Sorte a deles! Cá estamos nós, para confirmar o feito: sorte a nossa - isso, ela não disse, mas pensou enquanto concluía mais um texto do tipo “o que esperar quando se está esperando”:

- Ora bolas, o melhor, só o melhor, sempre o melhor! Ainda que se ignore as estatísticas em prol do bem-estar.
O importante é focar o pensamento em algum lugar entre o que se espera na barriga e do futuro.  

O resto... é neura, pura neura e nada mais.


E-mail: jrblasina@yahoo.com.br

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